Quebra-cabeça literário: o trabalho de recomposição de uma narrativa de vida presente no Arquivo Osman Lins

Osman Lins retrato

Retrato de Osman Lins; 9 x 12 cm. Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros – Fundo Osman Lins. A permissão para reproduzir é cortesia da família de Osman Lins.

Osman Lins (1924–1978), escritor brasileiro [pernambucano], optou por dedicar sua vida à Literatura. Seu projeto literário mescla-se com sua biografia, posto que muitos dos fatos que marcaram sua história pessoal surgem (e ressurgem) em sua obra de maneira significativa. Um deles, e talvez o mais importante, foi a perda da mãe logo após seu nascimento. O próprio escritor fala sobre isso em alguns depoimentos, dentre os quais, selecionamos entrevista concedida em 1976:

O traço fundamental da minha vida é que, dezesseis dias depois que nasci, perdi minha mãe. Fui criado pela minha avó, por outros parentes… Minha mãe não deixou fotografia, de modo que eu fiquei com essa espécie de claro atrás de mim. Dizem que ela se parecia com uma das minhas filhas, não sei. Mas esse negócio acho que me marcou bastante. Já tive oportunidade de dizer que isso configura a minha vida como escritor, pois parece que o trabalho do escritor, metaforicamente, seria construir com a imaginação um rosto que não existe. Isso talvez tenha me conduzido a suprir de algum modo, através da imaginação, essa ausência. Não digo que tenha sido traumatizado, mas tenho a impressão que a coisa me marcou. Em consequência dessa morte, passei minha infância praticamente sozinho.[1]

Pode-se dizer que essa ausência da mãe trouxe a Osman Lins a responsabilidade de uma vida que não poderia ser desperdiçada, pois, segundo o próprio autor, sua mãe morrera para que ele pudesse nascer. Tal fato o fez desenvolver aquilo que um escritor busca, ou seja, “construir com a imaginação um rosto que não existe”. Mais do que um desenvolvimento literário levado às últimas consequências – afinal, por sua Literatura, optou por mudanças de cidade, viagens, estudos e muita abstenção de luxos pessoais – a morte da mãe e a busca por sua imagem imiscuem-se nas temáticas de sua ficção.

Um exemplo disso está no conto “O vitral”[2] do livro Os gestos (1957), que segundo a fortuna crítica osmaniana, enquadra-se na primeira fase da obra do escritor. No conto, a protagonista Matilde acredita que por meio do registro fotográfico com o esposo, ela poderá, na imagem, aprisionar a alegria daquele momento festivo, registrado na fala:

Acreditava que este haveria de apreender seu júbilo.

Entretanto, o desenrolar do conto faz com que ela tenha a percepção da efemeridade da alegria, comparando esse sentimento ao colorido obtido na exposição de um vitral ao sol, e daí o título do conto:

Ela apertou o braço do marido e sorriu, ao sentir que um júbilo quase angustioso jorrava de seu íntimo. Compreendera que tudo aquilo era inapreensível: enganara-se ou subestimara o instante ao julgar que poderia guardá-lo. “Que esse momento me possua, me ilumine e desapareça”, pensava. “Eu o vivi. Eu o estou vivendo”.

Quase dez anos depois, Osman Lins retoma a ausência da mãe no livro Nove, novena (1966), o qual vem caracterizar uma segunda etapa de sua obra, denominada pelo próprio autor como sua fase madura. Na narrativa “Perdidos e achados”, retiramos um trecho que remete-nos ao dilema da busca da imagem, adaptado à sua maneira, ao contexto[3] do conto:

Depois, meu irmão passa a exigir que eu faça nosso pai visível para ele e, com o tempo, suas perguntas vão adquirindo um caráter pouco indagador; mais afirmativo; em seu interior gerou uma figura nascida quem sabe de que moldes (…)

Essa longa contextualização de autor e obra é o mote para a apresentação de seu arquivo pessoal, hoje salvaguardado em duas instituições brasileiras: Fundação Casa de Rui Barbosa (Rio de Janeiro – Brasil) e Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (São Paulo – Brasil). Em ambos os depósitos, a doação foi realizada pela viúva do escritor, a também escritora Julieta de Godoy Ladeira. A hipótese da dupla localização gira em torno da ideia da busca por uma maior divulgação da obra osmaniana, busca praticamente incansável do escritor em vida. A documentação encontra-se fragmentada, entre originais e cópias, precisando ser cotejada pelos pesquisadores osmanianos, nas duas instituições de salvaguarda.

Dentre o conjunto documental depositado no Instituto de Estudos Brasileiros, destaca-se um conjunto de fitas K7. Apresentamos hoje a transcrição de uma que nos chamou especial atenção. Com a duração de quase quatro minutos de fala, a fita traz a inscrição manuscrita “Fala da mãe” e guarda a voz do escritor narrando o que se julgou inicialmente ser um depoimento de Osman Lins, em que novamente abordará a figura da mãe:

Entrevistas ou confissões concedidas à Edla [interrupção da fita]. Estou gravando deitado com a saúde abalada por uma série de problemas de modo que a minha voz não deve, não deve estar das mais nítidas, em todo caso faremos um esforço. [interrupção da fita] Pergunta um: [interrupção da fita] Essa minha confissão sobre o desaparecimento da minha mãe quando eu era ainda uma criança de dezesseis dias, não tem sido muito bem compreendida às vezes. [interrupção da fita] O fato é que eu não perdi apenas a minha mãe com dezesseis dias e que ela morreu quando eu não tinha ainda nenhuma consciência das coisas [interrupção da fita] e não deixou absolutamente nenhuma fotografia. [interrupção da fita] Constava que havia uma das suas, havia uma fotografia sua em num grupo de primeira comunhão eu andei boa parte da minha vida atrás dessa fotografia. O assunto, aliás, foi tematizado num dos meus contos em Nove, Novena, “Perdidos e achados”, naturalmente com uma série de modificações. [interrupção da fita] O que eu quero dizer não é que escrever seja uma tentativa de reconstruir imaginariamente o rosto materno, mas um rosto que não existe, um rosto imaginário. [interrupção da fita] Falo em termos metafóricos e isto explica que esta reconstrução, no meu caso, não seja feita através de personagens femininos ou masculinos. [interrupção da fita] Na realidade o que eu quero dizer é isso: que o ficcionista tenta reconstruir algo cujo contorno ele pressente, [interrupção da fita] apenas pressente e que a obra realiza [interrupção da fita]. Agora, a título de curiosidade para estimular um pouco a imaginação dos que nos lêem, quando minha mãe morreu, tinha 20, 21 anos por aí assim. Hoje eu tenho 53 ela teria 70 e poucos anos. No entanto curiosamente, em minha imaginação ela continua a ter aproximadamente a idade com que faleceu. Assim de certa maneira, hoje a minha mãe é muito mais jovem do que eu.

Gravação de “Fala da mãe” depositado no Instituto de Estudos Brasileiros

A fita, que comportaria mais de 60 minutos de gravação, traz apenas este breve trecho. Com forte teor emocional, o início da fala do escritor traz a palavra “confissões”, não de forma ornamental[4]. Pressupõe-se que Osman Lins, de forma consciente ou inconsciente, sentindo a perda das forças vitais causada por sua enfermidade, busca, como o que se configuraria como um último ritual, confessar seus sentimentos antes de partir – o que, na fé cristã, seria chamado de sacramento da unção dos enfermos[5]. Entretanto, no caso do escritor, esse ritual viria marcar o pacto definitivo do escritor com a Literatura, presente até os últimos momentos de sua vida (e, consequentemente, de sua produção literária).

A referência à suposta jornalista Edla foi um dos pontos que precisaram de pesquisa e contextualização – estas serão mais bem explicadas adiante, pois através disso confirmou-se que Edla não era uma jornalista e sim uma escritora, como Osman Lins.

Os registros que marcam as interrupções da fita foram mantidos na transcrição, pois se acredita que eles são mais uma evidência da fragilidade de saúde na qual se encontrava o escritor. Ao início do presente estudo, a primeira hipótese (confirmada posteriormente) sobre a doença apontada pelo depoente remeteu-nos ao câncer, que o levou ao falecimento. Entretanto, seja por meio de relatos de familiares e amigos que o acompanharam, seja por outros documentos deixados por Osman Lins em seu arquivo[6], o escritor lutou até os últimos minutos contra a doença, não sabendo o tamanho do mal que lhe acometia.

No que nos parece ser seu último registro em vida, passada a breve explicação de Osman, logo é introduzido o mote da fala, fazendo mais um registro da marca deixada pela ausência da imagem materna, e a sua busca pela fotografia da mãe. A partir daqui, não há como não dialogar com os estudos de Miriam Lifchitz Moreira Leite[7]. Segundo ela, Bourdieu considera o álbum de família como “um monumento funerário frequentado assiduamente”[8], que, no caso de Osman Lins, muito menos que um compêndio de fotos, o que ele busca é apenas uma única imagem fotográfica, que o remeta ao rosto da mãe. Em outras palavras, o escritor não consegue cumprir um luto necessário, diante da ausência de um referencial de rosto. A fotografia que ocuparia o “monumento funerário” não existe e novamente, o que seria um ritual de passagem, não se completa e por isso, não cessa nunca a angústia que o toma por toda sua vida, impregnando seu cotidiano a ponto de influenciar seu tão caro projeto literário. O depoimento gravado reafirma o fantasma criado pelo “silêncio” da imagem, e o que tinha um tom autobiográfico, passa para a ficção literária[9]. Nosso querido escritor não consegue ignorar o diálogo com seus leitores[10], e convida aos que o lêem (e em nosso caso, aos que o escutam), a fazerem um exercício de imaginação. Retomemos:

Agora, a título de curiosidade para estimular um pouco a imaginação dos que nos lêem, quando minha mãe morreu, tinha 20, 21 anos por aí assim. Hoje eu tenho 53 ela teria 70 e poucos anos. No entanto curiosamente, em minha imaginação ela continua a ter aproximadamente a idade com que faleceu. Assim de certa maneira, hoje a minha mãe é muito mais jovem do que eu.

Novamente lançamos mão dos estudos de Miriam L. M. Leite, que nos assinala a pertinência da observação de Proust, quando este diz: “o tempo que altera as pessoas não modifica a imagem que guardamos delas […], pois a memória, ao introduzir o passado no presente, suprime exatamente essa grande dimensão do tempo de acordo com a qual a vida se realiza” (p. 36). Osman Lins exprime isso, ao comparar-se como alguém mais velho que a mãe, apesar de logicamente ela ter nascido antes dele. Em outras palavras, como indica Miriam L. M. Leite, agora dialogando com Bachelard, segundo o autor, o que ocorre é que “a memória e a imaginação não admitem dissociação. Uma e outra trabalham para seu aprofundamento mútuo. Uma e outra constituem, na ordem dos valores, a comunhão da lembrança e da imagem” (p. 36). E é com este exercício de imaginação, que Osman Lins encerra sua reflexão.

Voltemos à Edla. Durante a leitura da fortuna crítica osmaniana, deparei-me com o livro Viver & Escrever, em cujo volume um – de uma série que foi composta de três – havia a indicação de entrevista com o escritor Osman Lins. A surpresa, e a resposta para um dos mistérios da fita com o breve depoimento do escritor pernambucano, veio logo na “Apresentação” do livro. Edla, ao apresentar o projeto, aponta a metodologia da coleta das entrevistas que tinham como objetivo, escritores e escritoras brasileiros:

(…) Em geral, as perguntas foram elaboradas a partir da leitura da obra, de pesquisas em jornais e revistas. O processo para realizá-las variou conforme a circunstância e a preferência dos autores. Alguns me responderam os questionários por escrito, outros oralmente.

Um caso especial: Osman Lins.[11]

A autora, agora reconhecida pelo nome completo – Edla van Steen – também ficcionista, continua o relato pormenorizando a especificidade da coleta da entrevista de Osman:

Entro no quarto onde Osman está deitado, doente; veste um robe de seda e traz um cobertor aos pés. Eu me impressiono com a sua cor, uma palidez quase verde. Os olhos afundados nas órbitas. “Que tal estou, muito abatido?” – a angústia transmitida na primeira frase. “Não acho, não” – minto. Ele me olha profundamente, sem agressividade, mas com a ironia habitual: “As mulheres são sempre mentirosas”. (Tínhamos combinado por telefone que eu deixaria as perguntas, um gravador, as fitas e ele daria a entrevista quando tivesse disposição.) Tento despistar, enquanto bebo o café que Julieta[12] me dá. Trato então de entregar-lhe o questionário (por dentro, meu coração bate descompassado). Ele me pede que leia as perguntas em voz alta: “Só agora percebo que é preciso ter saúde até para ler. Ando tão cansado.

Dias após telefonei: Osman tinha começado a gravação. Senti um leve entusiasmo na voz.

De repente, Osman tem que ser internado no Hospital Albert Einstein. Visitei-o duas vezes, (…). As noites de vigília eram visíveis no rosto de Julieta. Cada hora, cada dia de vida, apesar do sofrimento, significava um alívio para ela, porque ainda estava perto do marido. E, àquela altura, era o suficiente. “Preciso ficar bom logo, Julieta, para acabar a entrevista.”[13]

Infelizmente, a doença venceu e apesar da força de vontade de Osman Lins, ele veio a falecer em oito de julho de 1978, deixando inacabados um romance[14] e a entrevista à Edla van Steen. Entretanto, a incansável Julieta, então viúva do escritor, após uma semana da morte do marido, entrega à Edla a entrevista e explica à organizadora do livro como, mesmo diante da morte do escritor, o depoimento foi composto, contextualizando todo o processo:

Edla van Steen apareceu num sábado à tarde com diversas perguntas, um gravador, duas fitas. Meados de junho. Osman Lins, embora já bastante mal, dissera-me para marcar a entrevista que vinha sendo adiada há vários dias. Resolvera participar deste livro, apesar do esforço que isso significaria para alguém em seu estado de saúde. Mais uma vez colocava em primeiro plano a literatura, a participação.

Gravou a primeira resposta. Não houve tempo para gravar a segunda nem as demais. E depois, em julho, ao voltar só para casa, num mundo sem Osman Lins, não encontrei essa gravação em parte alguma. Queria ouvir a resposta, queria ouvir sua voz. Não foi possível. Ali estavam o gravador, as perguntas, a outra fita intacta. A fita gravada desaparecera. Esses mistérios. Então, aceitando a solicitação de Edla, armei a entrevista com respostas dadas por Osman Lins a diversos jornais e revistas nos últimos anos. Examinando seu arquivo, consegui fazer isso.[15]

O longo trecho transcrito precisou ser recomposto em sua integridade, pois é a junção desta informação, com a fita depositada hoje no arquivo do escritor que resolvem o mistério. São mais de vinte anos que separam a publicação de Edla e a transcrição da fita, sendo que a resposta para os mistérios só foram descobertas diante da soma, do conteúdo da fita e da minha leitura do livro, em meados de 2008. A fita não mais está desaparecida e o breve relato de Osman Lins, traz, nas palavras expressadas com dificuldade pelo enfermo depoente, a condensação de grande parte daquilo que permeou sua vida e por consequência, sua obra. Palavras condensadas[16], escolhidas por alguém que precisa se expressar ao máximo, usando o mínimo de energia que naquele momento lhe era roubada pela doença. Tudo isso só potencializa e qualifica o conteúdo do pequeno relato.

Aos pesquisadores dos arquivos literários, fica o convite para que, como arqueólogos do papel, somem-se ao número daqueles que se dispõem a se aprofundar, desbravar e garimpar informações, trazendo à luz uma história adormecida que abre novas perspectivas de estudos. Neste caso aqui relatado, é inevitável a comparação à imagem do vitral, esta tão cara ao escritor Osman Lins. Seu pequeno relato-vitral volta à luz, que perpassa sua documentação quando da abertura de seu arquivo. Este, assim como a obra osmaniana, transveste-se com um novo tom de cor, que vem compor a palheta já tão multicolorida de sua fortuna crítica.

Referências bibliográficas do presente ensaio:
LEITE, M. L. M. “Retratos de família: imagem paradigmática no passado e no presente”, in: SAMAIN, Etienne. O Fotográfico. São Paulo: Editora HUCITEC / SENAC, 2010, terceira edição revista.

PAES, José Paulo. “Palavra feita vida” – posfácio de Nove, novena. São Paulo: Cia. das Letras, 1994.

RIBAS, Elisabete Marin et all. Marinheiros de Primeira Leitura. Editora HUCITEC, 2004.

________________________. Giz, caneta e pincel: Literatura e História da Arte nas aulas do professor Osman Lins. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Teoria Literária e Literatura Comparada do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para a obtenção do título de Mestre em Letras. 2011. Disponível no endereço: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8151/tde-26062012-164222/pt-br.php

STEEN, Edla van. Viver & escrever. Porto Alegre, L&PM, 1981.

As primeiras edições das obras de Osman Lins são:
O visitante, romance, 1955.

Os gestos, contos, 1957.

O fiel e a pedra, romance, 1961.

Marinheiro de primeira viagem, literatura de viagem, 1963.

Lisbela e o Prisioneiro, teatro, 1964.

Nove, novena, narrativas, 1966.

Um mundo estagnado, ensaio, 1966.

Capa-Verde e o Natal, teatro infantil, 1967.

Guerra do Cansa-Cavalo, teatro, 1967.

Guerra sem testemunhas- o escritor, sua condição e a realidade social, ensaio, 1969.

Avalovara, romance, 1973.

Santa, automóvel e o soldado, teatro, 1975.

Lima Barreto e o espaço romanesco, ensaio, 1976.

A rainha dos cárceres da Grécia, romance, 1976.

Do ideal e da glória. Problemas inculturais brasileiros, coletânea de artigos e ensaios, 1977.

La Paz existe?, literatura de viagem, em parceria com Julieta de Godoy Ladeira, 1977.

O diabo na noite de Natal, literatura infantil, 1977.

Missa do Galo – Variações sobre o mesmo tema, organização e participação, 1977.

Casos especiais de Osman Lins, novelas adaptadas para televisão e levadas ao ar pela TV Globo, 1978.

Publicações póstumas:
Evangelho na taba. Problemas inculturais brasileiros II, coletânea de artigos, ensaios e entrevistas, com apresentação de Julieta de Godoy Ladeira, 1979.

Domingo de Páscoa, novela, último texto escrito por Osman Lins, em 1978. Publicado pela primeira vez no Brasil, na Revista de Literatura Travessia, da Universidade Federal de Santa Catarina, n. 33, dezembro de 1996, pp. 120-131.

Romance inacabado:
A cabeça levada em triunfo.

Websites:
Arquivo do escritor

Instituto de Estudos Brasileiros [em Português]

Instituto de Estudos Brasileiros [in English]

Fundação Casa de Rui Barbosa

Notas de fim


[1]    “O Desafio de Osman Lins”, entrevista de Osman Lins para Astolfo Araújo, Hamiltons Trevisan, Gilberto Mansur e Wladyr Nader. Revista ESCRITA, ano II, número 13, 1976. Publicada posteriormente em Evangelho na taba: novos problemas inculturais brasileiros. São Paul: Summus, 1979, p. 211.

[2]    O conto foi pela autora analisado no ensaio “O Vitral´: ficção ou transposição da alegria”, publicado no livro Marinheiros de Primeira Leitura, em 2004, pela editora Hucitec.

[3]    Usamos o posfácio da edição de Nove, novena, que traz preciso (e precioso) resumo da narrativa feito por José Paulo Paes, também escritor e amigo de Osman Lins: “(…) gira em torno de um pai a procurar baldadamente o filho que se extravia dele numa praia de Recife e que ali morre afogado sem o pai chegar a ver-lhe o corpo.” (p. 206)

[4]    No contexto da religião católica, a confissão ocupa um dos status sacramentais – como a comunhão, o matrimônio, o batismo – e é por meio dela que o fiel expõe seus erros e má conduta, de forma reservada e individual ao sacerdote, único representante de Deus que pode absolver os pecados cometidos pelos cristãos, na Terra. Na Bíblia, tal ação está selada no trecho que, segundo a doutrina cristã, funda a igreja a partir do discípulo Pedro: “E vós, quem dizeis que eu sou? Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo. Jesus respondeu-lhe: bem aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne ou sangue que te revelaram isso, e sim meu Pai que está nos céus. Também eu te digo que és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja, e as portas do Hades nunca prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus.” (Mateus, 16: 15-19)

[5]    É o sacramento pelo qual o sacerdote reza e abençoa os enfermos para estimular-lhes a cura mediante a fé, ouve deles os arrependimentos por meio da confissão e promove-lhes o perdão de Deus. Pode ser dado a qualquer enfermo, entretanto, durante muito tempo da Era Cristã, era concedido apenas aos pacientes moribundos.

[6]    Aqui se destaca o chamado Diário da doença, fonte de análise pela pesquisadora Profª. Dra. Sandra Nitrini, também presente no Arquivo IEB-USP, sob o código: OL-VDF-0098.

[7]    Pesquisadora doutora em História Econômica, falecida em 16 de fevereiro deste 2013. Autora do livro Retratos de família: leitura da fotografia histórica (EDUSP / FAPESP, 1993 – prêmio Jabuti, 1994) e de artigos sobre textos verbais e visuais em revistas especializadas, dentre os quais nos detemos, de maneira especial em “Retratos de família: imagem paradigmática no passado e no presente”, in: SAMAIN, Etienne. O Fotográfico. São Paulo: Editora HUCITEC / SENAC, 2010, terceira edição revista.

[8]    LEITE, M. L. M. “Retratos de família: imagem paradigmática no passado e no presente”, in: SAMAIN, Etienne. O Fotográfico. São Paulo: Editora HUCITEC / SENAC, 2010, terceira edição revista, p. 35.

[9]    Essa ambigüidade entre relato e criação literária também está presente em seu livro Marinheiro de Primeira Viagem. Um exemplo de descrição que passa para a ficção encontra-se na cena em que o protagonista da história, durante a visita ao museu, entrega-se à imaginação ao penetrar no quadro do pintor Uccello: (…) A Batalha, de Uccello, com seus potentes e oníricos cavalos. Monta num cavalo azul, atravessa as salas, compassadamente. Madonas seguem-no (…). (p. 87)

[10]  A autora também já apontou tal característica do escritor, enquanto trabalhou como professor de Literatura. Para isso, recorrer à dissertação de mestrado: Giz, caneta e pincel: Literatura e História da Arte nas aulas do professor Osman Lins, página 44. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8151/tde-26062012-164222/pt-br.php

[11]  STEEN, Edla van. Viver & escrever. Porto Alegre, L&PM, 1981, p. 9.

[12]  Referência à esposa do escritor, Julieta Godoy Ladeira, também ficcionista.

[13]  STEEN, Edla van. Viver & escrever. Porto Alegre, L&PM, 1981, pp. 9-10.

[14]  O romance receberia o nome de A cabeça levada em triunfo. Seu manuscrito encontra-se no fundo do escritor, no Arquivo IEB – USP.

[15]  STEEN, Edla van. Viver & escrever. Porto Alegre, L&PM, 1981, p. 10.

[16]  José Paulo Paes, no já citado posfácio da edição de Nove, novena, relembraria a expressão “Micromegas” de Voltaire, e a aplicaria às narrativas do escritor pernambucano.

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